2014 foi um ano de ouro
para os podcasts (programas de rádio produzidos e distribuídos na NET). Em boa
medida, isso é consequência do
enorme sucesso de "Serial", uma investigação
jornalística sobre um homicídio, apresentado em 12 episódios.
Mas não só. "StartUpPodcast" foi outro projecto de sucesso que pode ter feito com que os investidores
de risco comecem a apostar a sério neste formato. Destaque ainda para "99%Invisible" que, através do sistema de crowdfunding, pediu aos seus ouvintes
250 mil dólares e acabou por conseguir mais de 600 mil, o que beneficiará não só
aquele como seis outros programas reunidos no projecto Radiotopia.
Foi há cerca de uma década
que se começou a ouvir falar em podcasts. O percurso, ao longo destes anos, não
foi fácil, houve avanços e recuos, mas deu um enorme salto em frente nos
últimos anos, tirando partido da popularização dos smartphones, que tornam bem
mais simples e prático descarregar e ouvir podcasts.
Uma das vantagens desta
forma de comunicação é poder ser consumida enquanto os ouvintes realizam outras
tarefas, não necessitando de uma atenção exclusiva da sua parte.
Carros ligados à net vão
aumentar o número de ouvintes
Os Estados Unidos são o país
onde os podcasts têm maior popularidade. Um estudo da Edison Research indica
que há cerca de 39 milhões de pessoas que ouvem, pelo menos, um podcast por mês.
Outro dado interessante é que 20% dos ouvintes consomem seis ou mais programas
por semana.
Isso ficará a dever-se ao
facto de haver cada vez mais gente com smartphone nas mãos e por muitos dos
carros que saem das fábricas terem ligação à internet, uma situação que se vai
banalizar e tornar norma nos próximos anos. Tendo em conta que é dentro de
carros que mais se consome rádio, se passar a ser tão fácil ouvir sons através
da internet como sintonizar uma frequência terrestre, isso aumentará significativamente
o consumo de podcasts.
Daí que não seja de
estranhar que já haja quem esteja a posicionar-se para tirar o máximo partido possível
desta evolução.
Por exemplo, Alex
Bloomberg, do "StartUp Podcast", pretendia que sua recém-constituída
empresa, “Gimlet Media”, lançasse três programas até ao final do ano, mas ao
deparar-se com o potencial de crescimento do mercado, já decidiu antecipar o lançamento
de outros podcasts.
A revista "Slate"
tem, na sua versão digital, vindo a apostar nesta área, uma aposta que pretende
reforçar. Conta com cerca de duas dezenas de programas que têm cerca de seis
milhões de downloads mensais, segundo o seu editor, Andy Bowers, e a palavra de ordem é aumentar a oferta ao longo deste ano.
Mas o maior player do
sector é a empresa "PodcastOne" que já disponibiliza 200 programas,
com 120 milhões de downloads/mês, e tem em carteira outros 200 projectos.
Atrair as grandes
empresas para o sector
Portanto, há ouvintes
para sustentar a indústria, mas haverá também dinheiro? Parece que sim.
Nos Estados Unidos, há a
tradição de serem os próprios radialistas a darem voz à publicidade, de uma forma
que quase se confunde com o programa. Isso agrada às empresas, pois entendem
que esta forma de passar a mensagem é bem mais eficaz do que o tradicional anúncio
super-produzido, que as pessoas se habituaram a ignorar. Daí que estejam dispostos
a pagar mais para que a menção à sua empresa mais do que anúncio pareça ser a
sugestão de um amigo (o radialista) no qual os ouvintes acreditam e confiam.
É quase impossível dizer
com rigor qual o total da verba envolvida mas há alguns dados parcelares que são
significativos.
Num dos episódios de "StartUp
Podcast" ficámos a saber que a empresa patrocinadora pagava seis mil dólares
por programa.
A Mail Chimps, uma das
empresas que mais apostam em podcasts, terá pago entre 25 e 40 dólares por cada
mil downloads de "Serial". Tendo em conta que terão sido feitos entre
25 a 30 milhões de downloads - e embora alguns dos primeiros episódios não
tenham contado com anúncios - estamos a falar de verbas significativas. E aos
valores da publicidade, há a acrescentar o financiamento obtido junto dos seus
ouvintes.
Este investimento parece
ter um retorno interessante para as empresas. Um inquérito levado a cabo pela
empresa "Midroll" junto de 300 mil ouvintes indica que 63% comparam
pelo menos um produto ou serviço promovido num dos podcasts que ouviram. Esta
empresa conta facturar um milhão de dólares anuais com quatro dos seus podcasts
mais populares.
Norm Pattiz, o big-boss do
"PodcastOne", estima que o sector vá gerar cerca de 100 milhões de dólares
este ano. A sua estratégia é apresentar uma enorme oferta de podcasts, de forma
a atrair o interesse das grandes empresas, que ainda pensam não ter o sector
peso e dimensão suficientes para nele investirem.
Portugal está out
Em Portugal esta vertente
de comunicação é quase inexistente, não seguindo, nem de perto nem de longe, a
febre que se vive lá por fora, em especial nos Estados Unidos ou mesmo na Grã-Bretanha,
através da BBC, que tem uma variada oferta de podcasts.
Isso por ter a ver com a
pobreza do mercado publicitário nacional, mas também com a aparente falta de
interesse dos potenciais consumidores, à qual não deve ser alheia a falta de
investimento das rádios em programas de autor. Mas mesmo que haja algum interesse
da parte dos portugueses em experimentarem ouvir podcasts na sua língua, têm
uma tarefa complicada pela frente. Isto porque se revela difícil ou mesmo impossível,
nalguns casos, descarregar para um smartphone programas deste género dos sites
das principais rádios nacionais.