domingo, 11 de janeiro de 2015

Investimento nos podcasts pode chegar aos 100 milhões em 2015




2014 foi um ano de ouro para os podcasts (programas de rádio produzidos e distribuídos na NET). Em boa medida, isso é consequência do enorme sucesso de "Serial", uma investigação jornalística sobre um homicídio, apresentado em 12 episódios.
Mas não só. "StartUpPodcast" foi outro projecto de sucesso que pode ter feito com que os investidores de risco comecem a apostar a sério neste formato. Destaque ainda para "99%Invisible" que, através do sistema de crowdfunding, pediu aos seus ouvintes 250 mil dólares e acabou por conseguir mais de 600 mil, o que beneficiará não só aquele como seis outros programas reunidos no projecto Radiotopia.

Foi há cerca de uma década que se começou a ouvir falar em podcasts. O percurso, ao longo destes anos, não foi fácil, houve avanços e recuos, mas deu um enorme salto em frente nos últimos anos, tirando partido da popularização dos smartphones, que tornam bem mais simples e prático descarregar e ouvir podcasts.

Uma das vantagens desta forma de comunicação é poder ser consumida enquanto os ouvintes realizam outras tarefas, não necessitando de uma atenção exclusiva da sua parte.



Carros ligados à net vão aumentar o número de ouvintes
Os Estados Unidos são o país onde os podcasts têm maior popularidade. Um estudo da Edison Research indica que há cerca de 39 milhões de pessoas que ouvem, pelo menos, um podcast por mês. Outro dado interessante é que 20% dos ouvintes consomem seis ou mais programas por semana.

Em todo o mundo, de acordo com este artigo do Washington Post, haverá cerca de 75 milhões de ouvintes de podcasts e a tendência é de aumento.
Isso ficará a dever-se ao facto de haver cada vez mais gente com smartphone nas mãos e por muitos dos carros que saem das fábricas terem ligação à internet, uma situação que se vai banalizar e tornar norma nos próximos anos. Tendo em conta que é dentro de carros que mais se consome rádio, se passar a ser tão fácil ouvir sons através da internet como sintonizar uma frequência terrestre, isso aumentará significativamente o consumo de podcasts.

Daí que não seja de estranhar que já haja quem esteja a posicionar-se para tirar o máximo partido possível desta evolução.
Por exemplo, Alex Bloomberg, do "StartUp Podcast", pretendia que sua recém-constituída empresa, “Gimlet Media”, lançasse três programas até ao final do ano, mas ao deparar-se com o potencial de crescimento do mercado, já decidiu antecipar o lançamento de outros podcasts.

A revista "Slate" tem, na sua versão digital, vindo a apostar nesta área, uma aposta que pretende reforçar. Conta com cerca de duas dezenas de programas que têm cerca de seis milhões de downloads mensais, segundo o seu editor, Andy Bowers, e a palavra de ordem é aumentar a oferta ao longo deste ano.
Mas o maior player do sector é a empresa "PodcastOne" que já disponibiliza 200 programas, com 120 milhões de downloads/mês, e tem em carteira outros 200 projectos.


Atrair as grandes empresas para o sector
Portanto, há ouvintes para sustentar a indústria, mas haverá também dinheiro? Parece que sim.
Nos Estados Unidos, há a tradição de serem os próprios radialistas a darem voz à publicidade, de uma forma que quase se confunde com o programa. Isso agrada às empresas, pois entendem que esta forma de passar a mensagem é bem mais eficaz do que o tradicional anúncio super-produzido, que as pessoas se habituaram a ignorar. Daí que estejam dispostos a pagar mais para que a menção à sua empresa mais do que anúncio pareça ser a sugestão de um amigo (o radialista) no qual os ouvintes acreditam e confiam.

É quase impossível dizer com rigor qual o total da verba envolvida mas há alguns dados parcelares que são significativos.
Num dos episódios de "StartUp Podcast" ficámos a saber que a empresa patrocinadora pagava seis mil dólares por programa.
A Mail Chimps, uma das empresas que mais apostam em podcasts, terá pago entre 25 e 40 dólares por cada mil downloads de "Serial". Tendo em conta que terão sido feitos entre 25 a 30 milhões de downloads - e embora alguns dos primeiros episódios não tenham contado com anúncios - estamos a falar de verbas significativas. E aos valores da publicidade, há a acrescentar o financiamento obtido junto dos seus ouvintes.

Este investimento parece ter um retorno interessante para as empresas. Um inquérito levado a cabo pela empresa "Midroll" junto de 300 mil ouvintes indica que 63% comparam pelo menos um produto ou serviço promovido num dos podcasts que ouviram. Esta empresa conta facturar um milhão de dólares anuais com quatro dos seus podcasts mais populares.
Norm Pattiz, o big-boss do "PodcastOne", estima que o sector vá gerar cerca de 100 milhões de dólares este ano. A sua estratégia é apresentar uma enorme oferta de podcasts, de forma a atrair o interesse das grandes empresas, que ainda pensam não ter o sector peso e dimensão suficientes para nele investirem.

Portugal está out
Em Portugal esta vertente de comunicação é quase inexistente, não seguindo, nem de perto nem de longe, a febre que se vive lá por fora, em especial nos Estados Unidos ou mesmo na Grã-Bretanha, através da BBC, que tem uma variada oferta de podcasts.
Isso por ter a ver com a pobreza do mercado publicitário nacional, mas também com a aparente falta de interesse dos potenciais consumidores, à qual não deve ser alheia a falta de investimento das rádios em programas de autor. Mas mesmo que haja algum interesse da parte dos portugueses em experimentarem ouvir podcasts na sua língua, têm uma tarefa complicada pela frente. Isto porque se revela difícil ou mesmo impossível, nalguns casos, descarregar para um smartphone programas deste género dos sites das principais rádios nacionais.

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