Um dia depois de ter sido colocado
no YouTube o vídeo da Porta dos Fundos dedicado ao Carnaval já tinha 920 mil
visualizações. Nada de extraordinário no mundo do mais popular grupo de
comediantes brasileiros. O vídeo anterior, ‘Tamanho’, com apenas três dias de
vida, já contabilizava 1,8 milhões espreitadelas. Se as coisas correrem de
feição, pode acontecer que cheguem aos 18,2 milhões de visualizações, o máximo
conseguido, até agora, por um vídeo da Porta dos Fundos. O seu canal conta com
9,6 milhões de subscritores, e, no total, os 330 vídeos colocados até 15 de
Fevereiro totalizavam quase 1,5 mil milhões de visualizações!
Estes são alguns dados que revelam
bem a popularidade da Porta dos Fundos no YouTube, a qual fez despertar o
interesse da televisão, através do canal FOX, que lhe deu antena para uma série
semanal, primeiro, no Brasil, e agora também em Portugal. Nesta primeira fase,
os conteúdos são repescados dos vídeos produzidos para o YouTube, mas a segunda
temporada já terá material original.
O que é irónico, uma vez que a
Porta dos Fundos nasceu por os seus fundadores serem muito críticos do humor
que se faz na televisão e se queixarem de falta de liberdade criativa por parte
dos big bosses do pequeno écran. Daí terem, em 2012, lançado o seu canal no
YouTube, com rábulas de pouco mais de um minuto, recheadas de um humor
corrosivo, absurdo e utilizando o tipo de linguagem que o brasileiro comum usa
no dia-a-dia e onde não faltam os palavrões. Outro dos trunfos é a produção
altamente profissional dos sketches, feita com uma qualidade técnica pouco
habitual no YouTube e muito mais aproximada do que se faz na televisão.
Vídeos populares e polémicos
O sucesso foi rápido e
avassalador, levando a que o canal da Porta dos Fundos esteja em 23º lugar nalista dos mais populares do YouTube, a nível mundial
Mas nem tudo tem sido fácil e
pacífico no seu percurso. A comunidade policial do Brasil não apreciou o vídeo ‘Dura’,
em que os humoristas fazem uma crítica à forma como muitas vezes os polícias
abordam os cidadãos. Aqui, vira-se o feitiço contra o feiticeiro e são dois civis
que, sem motivo, abordam, revistam e maltratam polícias. A rábula valeu ameaças
a Fábio Porchat e companhia.
Outro vídeo que deu que falar
foi este, produzido em plena campanha eleitoral brasileira. Nele, um candidato a deputado faz um refém e chantageia o eleitorado, anunciando que só o liberta se for
eleito. Mas a frase da polémica surge no fim, ao exigir, também, o voto em Anthony
Garotinho (um político muito polémico) na corrida para governador. O vídeo
acabou por ser retirado por ordem do Tribunal, que entendeu ser uma tentativa
não legítima de influenciar a votação. Mas voltou ao YouTube assim que
Garotinho foi derrotado logo na primeira volta. O mesmo percurso aconteceu com
o vídeo ‘Zona Eleitoral’.
À conquista do mundo
A Porta dos Fundos foi
fundada por Fábio Porchat, António Pedro Tabet, Gregório Duvivier, Ian SBT e
João Vicente de Castro. Uma equipa que foi crescendo e que, nesta altura, é
constituída por cerca de quatro dezenas de pessoas.
Um dos últimos reforços de
peso é a produtora argentina Juliana Algañaraz, responsável pela Endemol Brasil
e que, em meados do ano passado, foi contratada para CEO da Porta dos Fundos.
Essa contratação marcou o arranque de uma nova fase no percurso do grupo, com o
objectivo de rentabilizar a sério a fama conseguida, através de uma gestão
profissional, apesar de, nesta altura, e segundo este artigo da Exame brasileira, já facturar cerca de 30 milhões de reais anuais (9,2 milhões de
euros). O primeiro passo da estratégia de diversificação foi a entrada na
televisão, mas não vai ficar por aí. A Porta vai atacar também o mundo do
cinema, com dois filmes por ano, investir ainda mais na televisão e no
merchandising e gerir as carreiras de todos os seus humoristas.
Mas a base deste colectivo
criativo vai continuar a ser o YouTube, onde pretende lançar mais canais e
rentabilizá-los melhor, sobretudo, através de contratos comerciais com empresas
que paguem para que os seus produtos sejam mostrados nos vídeos para uma
audiência de milhões de pessoas que falem o idioma português, mas nem só, pois
alguns dos sketches já têm legendas em inglês, com o óbvio objectivo de chegar
a um auditório ainda maior. Na prática, a Porta dos Fundos parece querer
transformar-se numa autêntica multinacional do riso.
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